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Balanço da semana: 13 quedas consecutivas do Ibovespa

A semana passada no mercado doméstico foi marcada pela 13ª queda consecutiva do principal indicador da Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa. É a primeira vez, desde a criação do indicador em 1968, que uma sequência tão longa de recuos acontecia. 

Apesar da alta acima de 5% do Ibovespa no ano, as preocupações no mercado internacional impactaram diretamente os ânimos dos investidores brasileiros.  

No nosso balanço da semana de hoje, confira os principais fatos que impactaram o mercado na semana passada e o que podemos esperar para os próximos dias.     

Risco China 

Criado em 1993, o CBOE, ou índice VIX, representa as expectativas do mercado em relação às mudanças de preço do S&P 500 em curto prazo. Por isso, o indicador é popularmente conhecido como um termômetro da volatilidade do mercado norte-americano. 

Na última semana, com um mercado impactado pelas falas de Jerome Powell e receios quanto a economia chinesa, o indicador saltou, indicando um maior fator de risco no mercado: 

Fonte: CNBC 

Paralelo à percepção de risco no mercado, os rendimentos Treasuries norte-americanos de 10 anos saltaram para valores recordes, com os sentimentos ponderando em relação ao futuro da condução de política monetária do Fed. 

A alta nos rendimentos nos títulos públicos do tesouro acontece quando existe um sentimento de aversão de risco no mercado. Neste caso, opções mais seguras se tornam mais atrativas, valorizando os Treasuries na ponta. 

Para o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, o Fed ainda não possui “condições macroeconômicas” para justificar um início dos cortes nos juros até o fim do ano. O mercado de trabalho continua forte, segundo falas recentes de membros distritais do Fed, e as recentes preocupações com a China contribuem para o sentimento amargo. 

No dragão vermelho, as feridas causadas pela crise no mercado imobiliário ainda não cicatrizaram e a economia ainda não se recuperou do baque causado pela COVID-19 e as fortíssimas medidas para tentar barrar o avanço da doença no país — políticas essas que foram em sua maioria suspensas no início do ano. 

O mercado acompanhou de perto o caso da Evergrande, uma das maiores empresas do ramo imobiliário da China, e os sucessivos calotes nas dívidas no ano passado. Na semana passada, uma das maiores incorporadoras do país, a Country Garden Holdings, indicou que atrasará o pagamento de dívidas que somam US$ 535 milhões, reacendendo as preocupações do mercado com o setor. 

A soma de um mercado imobiliário fragilizado, economia encontrando dificuldades de recuperação, medidas do governo para tentar recuperar o consumo e uma queda na demanda externa resultaram no ajuste negativo das expectativas para o PIB chinês para 2023. Para a administração de Xi Jinping, crescer aquém das sinalizações de 5,5% feitas pelo líder chinês podem gerar um grande impacto político. 

Tentando atacar diretamente o crescimento econômico aquém do esperado, o governo anunciou nesta segunda (21) uma redução na taxa básica de juros para empréstimos de 3,55% para 3,45%. 

Juros subindo, Ibovespa caindo 

No Brasil, o Ibovespa, na ausência de catalisadores claros e crescimento nos ruídos políticos, teve a maior sequência de quedas de sua história, interrompida pela alta de 0,37% na sexta-feira (18). 

“Dados indicando desaceleração na China e manutenção de tom hawkish do Fed na ata divulgada na semana passada, destacando riscos de inflação alta, também geraram impacto no indicador brasileiro”, afirma Bertotti. 

Abaixo, acompanhe a variação do Ibovespa: 

Fonte: Valor Pro 

Os ruídos políticos em relação ao ministério da Economia e o presidente da Câmara se intensificaram na semana passada. Isso, somado a expectativa da votação do arcabouço fiscal no Senado, contribuiu para o sentimento com mais aversão ao risco dos investidores. 

Também foi destaque na semana a alta do Dólar no mercado internacional, com a moeda norte-americana apreciando em relação ao Real e chegando a custar R$ 4,995 na sexta (18). 

Na curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), uma tendência um pouco mais forte de alta nos juros: 

Fonte: Valor Pro 

A alta no Dólar e sentimentos mais amargos no mercado internacional mais uma vez geraram pontos de impacto, além da alta nos rendimentos dos Treasuries norte-americanos atingindo níveis recordes. 

O que vem por aí? 

No mercado internacional, os investidores vão ficar de olho nas falas do Fed no simpósio de Jackson Hole. Neste ano, o tema do simpósio é: “Mudanças estruturais na economia global”. 

Terça-feira (22): venda de casas usadas nos EUA (-2,2% em julho ante junho). 

Quarta-feira (23): PMI Composto dos EUA. 

Quinta-feira (24): nos EUA, pedidos por seguro-desemprego, índice de Atividade Nacional de Chicago e encomendas de Bens Duráveis. 

Sexta-feira (15): IPCA-15 no Brasil e simpósio de Jackson Hole, contando com falas de Jerome Powell.