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Balanço da semana: Fed não descarta aumentar os juros dos EUA

As reações do mercado em relação as falas do Powell na conferência de Jackson Hole e os dados do Payroll a serem publicados no dia 1 de setembro devem marcar a última semana de agosto. 

No cenário doméstico, preocupações com a inflação brasileira apesar do recuo das curvas de juros. O que o futuro reserva? 

No nosso balanço da semana de hoje, confira os principais fatos que impactaram o mercado na semana passada e o que podemos esperar para os próximos dias.      

Nos EUA, aumento nas taxas de juros não está descartado 

O simpósio de Jackson Hole é um dos eventos mais importantes do ano para os investidores que acompanham as sinalizações de Jerome Powell acerca da condução de política monetária do país. 

Com o tema de “Mudanças estruturais na economia global” em 2023, as falas do presidente do Fed no evento movimentaram o mercado no fim da semana passada. Mas o que veio de novidade? 

Para o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, Powell manteve o tom mais hawkish, contracionista. O Fed está preparado para mais ajuste positivo nas taxas de juros caso seja necessário, sinaliza o chairman. 

A economia não está desacelerando como previamente esperado, aponta Powell, apesar dos sinais firmes de quedas consecutivas na inflação do país. O mercado de trabalho segue apertado, apesar de estar em um processo de equilíbrio. 

Para justificar um possível aumento nas taxas de juros, será preciso acompanhar as condições econômicas e os próximos indicadores do país. Nesta sexta-feira (01), abrindo o mês de setembro, é divulgado os dados do Payroll, indicando quantas novas vagas não-agrícolas foram geradas nos EUA. 

Caso surpreenda para cima, pode ser um sinal relevante para Fed de que a economia ainda não atingiu o ponto de desaceleração desejável e que as taxas de juros poderão ficar altas por mais tempo. 

De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, que mede o rumo de política monetária conduzido pelo FOMC, há uma possibilidade de 78,5% de manutenção das taxas, enquanto 21,5% apontam para um ajuste de 25 pontos-base, elevando a taxa variável para o intervalo entre 5,50% e 5,75%: 

Fonte: CME Group

Para o economista-chefe da Messem, as atuais condições econômicas reforçam que futuras quedas nas taxas de juros não ocorrerão em 2023. Além dos problemas domésticos, a China, com a crise imobiliária e crescimento econômico aquém do esperado, continua sendo um fator preocupante. 

Os juros, portanto, continuarão altos por mais tempo, com quedas previstas para acontecer apenas no segundo trimestre do ano que vem. 

No Brasil, pressões da inflação 

Os sentimentos amargos do mercado internacional haviam impulsionado a curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) na terceira semana de agosto. Na semana passada, porém, as curvas passaram por uma leve desaceleração: 

Fonte: Valor Pro

Segundo Bertotti, as curvas foram pressionadas pelos resultados da prévia da inflação (IPCA-15), que mostraram uma alta de 0,28% mensalmente em agosto. No acumulado dos 12 meses, o índice avançou 4,24%. 

A alta nos treasuries norte-americanos, que atingiram alta máxima nos rendimentos da semana passada, também impactaram nas curvas de juros. É um mercado com mais aversão ao risco e procurando por opções mais seguras. 

Esses fatores no mercado externo também impactaram o principal indicador da Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa, que subiu 0,37% na semana passada. Aqui, destacam a aprovação do arcabouço fiscal no Senado e a alta em empresas ligadas ao setor sucroalcooleiro, com ganhos impulsionados pela proibição de exportação de açúcar na Índia. 

Acompanhe a variação do Ibovespa abaixo: 

Fonte: Valor Pro

Outro destaque fica para o Dólar, que depreciou em relação ao Real e terminou a semana com queda de 1,85%, a R$ 4,87, com falas de Powell e prévia da inflação em destaque. 

Apesar da queda na semana, a moeda norte-americana passou por uma apreciação em relação aos R$ 4,79 por Dólar registrados no início de agosto. Para o economista-chefe da Messem, parte da “culpa” está no nosso fluxo de investimento estrangeiro, que em agosto teve movimento negativo de R$ 12,33 bilhões na Bolsa até a semana passada. No ano, ainda está positivo em R$ 11,8 bilhões. 

Abaixo, acompanhe o fluxo estrangeiro no país: 

Fonte: Eleven

É o saldo da aversão ao risco no mercado, com investidores correndo para os rendimentos recordes dos treasuries e acompanhando o risco plausível do Fed aumentar as taxas de juros na próxima reunião do FOMC. 

O que vem por aí? 

É uma semana agitada, com múltiplos destaques importantes para a economia nacional e mercado externo. No Brasil, aguardamos os dados do PIB brasileiro, enquanto investidores também esperam pelos dados do Payroll norte-americano e crescimento econômico. 

O mercado de trabalho do país é acompanhado de perto, já que uma geração de emprego surpreendendo pode significar que as pressões inflacionárias ainda não atingiram o patamar desejado pelo Fed. 

Caso surpreenda e seja acompanhado por outras surpresas em indicadores como a inflação e o índice de consumo pessoal (PCE), o Fed pode optar por manter a postura contracionista, deixando as taxas de juros elevadas por mais tempo. 

Terça-feira (29): nos EUA, ofertas de emprego JOLTs. 

Quarta-feira (30): no Brasil, inflação da FGV (IGP-M). Nos EUA, crescimento do PIB. Na China, PMI industrial. 

Quinta-feira (31): no Brasil, taxa de desemprego. Nos EUA, índice de despesas de consumo pessoal (PCE). Na China, PMI industrial Caixin. 

Sexta-feira (01): no Brasil, crescimento do PIB e balança comercial. Nos EUA, dados do Payroll.